Não sei o que os meus amigos
facebookianos, companheiros de rota existencial, pensam ácerca da importância
que os lugares têm na nossa maneira de sentir as coisas e até de dar forma a
uma identidade determinada, que coabita, junto com outras, dentro de nós. O
nosso Bilhete de Identidade é algo bem mais complexo que um simples cartão de
identificação que nos arruma numa determinada circunstância pessoal. Vimos dos que nos deram
origem, estamos vinculados ao lugar onde nascemos e pertencemos onde vivemos
habitualmente. Mas...e com este "mas" é que começa a verdadeira
aventura. Porque com os pés assentes nesse substrato existencial, os percursos
que vamos abrindo ao longo da vida levam-nos a acrescentar, a essa identidade,
vivências "geográficas" que podem ir ao ponto de criar novas
identidades de nós próprios, que, como disse, passam a coabitar, em harmonia,
ou não - depende muito de cada um - dentro de nós. Há quem as carregue dentro
de si toda a vida, como se fossem troféus, postais, que se colocam na nossa estante
das recordações. Há quem as veja mais como um casacão pendurado no armário que
vestimos quando nos temos que deslocar a essa identidade. Seja como for (cada
um que descubra a sua própria maneira de viver as coisas), a verdade é que
quando olhamos para essas vivências muito marcadas que nos vão acrescentando
campos ao nosso BI de partida, tomamos consciência de que somos vários e muitos
ao mesmo tempo e que isso não nos surpreenda nem nos inquiete. Sou e somos. Um
e vários. Um determinado alguém cujo espetro de luz se vai ampliando ao longo
da vida e que brilha conforme o dia se anuncia dentro de cada um de nós, nessa
ou naquela amplitude de onda em que nos fomos acrescentando, hoje nesta, amanhã
naquela outra, com as cores da alegria, nas sombras da tristeza, a intensidade
do entusiasmo, a palidez do desânimo, com as tonalidades de Lisboa, Bruxelas,
Barcelona, Sofia, Bruges ou Sintra, onde estamos, por onde passámos e de onde
recolhemos e nos espalhámos, atomos de aqui e de ali, de uns e de outros, que se
agregam dentro de nós para dar corpo, forma e sentido ao enorme caleidoscópio
que somos. É assim, meus amigos, que eu vivo várias vidas na vida só que me foi
dada a viver e me declino por todos os farrapos que vou escrevendo sempre que
tenho tempo e me apetece. Hoje estou em Barcelona. Outro registo. Será porque
sou um caleidoscópio. Por isso o escrevo. Não vá esquecer-me. Com chuva, com
sol, a cores, a preto e branco, num ou noutro de cada um, tenham um bom dia. E
brilhem!
 
 
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