Esta é uma reflexão que se impõe: Que tem a União
Europeia de especial que continua a ser vista, pelos que lhe batem à porta, e
apesar da crise económica, política e de valores, profunda que atravessa, como
a terra prometida?
Uma União que não está disponível para dotar-se dos recursos
necessários ao desenvolvimento das suas ambições? Uma União que avança aos
solavancos, pressionada pelos mercados, por outros países, por outros blocos,
que reage, mais do que age? Uma União sem bandeiras, sem uma missão clara, cada
vez mais afastada da sua cidadania?
Irá ser
possível a esta União minimalista ser solidária com os futuros membros e
oferecer-lhes o enquadramento que precisam para construir a paz e prosperidade
que jamais tiveram?
Como encaixar estas peças todas de forma a que possamos ter uma
imagem global e coerente do que estamos a construir entre todos? Olhando para
os debates em Bruxelas, o que vemos é uma querela mesquinha em torno daquilo
que não queremos ser. O processo de integração passou a ser, todo ele, um
custo, um fardo, um não ser. E no entanto...há quem queira entrar. Porquê?
A
explicação está no que não se debate em Bruxelas, no que Bruxelas deixou pelo
caminho: os valores. Aqueles que presidiram à constituição das primeiras
Comunidades e que têm sido as alavancas que, nos momentos-chave, fizeram
avançar o processo de integração: a paz, a liberdade, a segurança, o bem-estar,
a prosperidade, a coesão, a solidariedade, a justiça, a igualdade, entre
outros.
Enquanto
a União Europeia for vista pelos que dela formamos parte, como um somatório de
custos e não de valores e o debate, em Bruxelas, girar em torno dos valores dos
custos e não sobre os custos dos valores, a União só faz verdadeiramente
sentido para aqueles que sabem que os valores que representa lhes são vitais.
Para esses países, pertencer à União vale qualquer custo.
Chegados
aqui, é pois saudável recordar que em 1951, aquando da constituição da CECA, o
valor da paz primou sobre o custo da sua realização. O bem-estar animou
ingleses, gregos, portugueses, espanhóis e outros a aderir. A solidariedade foi
o que justificou o alargamento histórico a leste. E hoje? Hoje olhamos para o
projeto mais transcendente da História da Europa como um custo acrescentado.
Enquanto
à porta da nossa consciência bate urgentemente a necessidade de recentramos a
construção europeia na sua verdadeira razão de ser: os valores. É isso o que
quem entra, espera. Foi por isso que a União recebeu, justamente, o Prémio
Nobel. Pelo valor inestimável que é a paz. Valeu a pena!
Maria do
Carmo Marques Pinto, Relatora para os Assuntos Europeus
 
 
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