The Köln Concert.
Memórias, recordações, saudades dos meus pais que cobram vida, nesta sala ainda
cheia de momentos em que eles, e não eu, eram os protagonistas, essa voz que me
oiço em percursos que não eram os meus mas agora me pertencem, cenas já
vividas, mas de fora, em que agora me encontro na primeira pessoa, objetos,
hábitos e rotinas que me pedem a paciência, o carinho e o cuidado a que estavam
habituados e que tento adoptar, são os mesmos mas tão diferentes na minha
maneira de ser, aprendo a conjugar tudo o que me rodeia e foi a vida deles, na
primeira pessoa, é a minha vez de me sentar à cabeceira da mesa grande, a não
deixar o fogo esmorecer na lareira, a dar corda ao relógio para que as noites
adormeçam com aquelas certezas serenas de sempre, é assim que a história
continua pelas vidas fora, e no entanto, há momentos em que a linha que separa
o presente do desejo de voltar atrás é tão fina, tão delicada, tão ténue
que...Acaba o piano de Keith Jarrett, anoiteceu, vou abrir a luz da entrada, do
jardim, fazer a ronda dos afazeres, abrir camas, tirar a loiça da máquina, pôr
a mesa, preparar o jantar, rotinas herdadas de uma casa, de uma vida declinada
com eles. Agora sem eles, na primeira pessoa. Mas rodeada deles. Olha...acabou
o gas da bilha. O que diria a minha mãe?
 
 
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