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domingo, 27 de janeiro de 2013

OUTROS NOMES DE OUTROS


Cada um sabe de si. Porque gosta disto, prefere aquilo, se afasta do outro, se centra aqui. Porque corre, porque pinta, escreve, canta, lê, desenha, constroi e conversa. O que o faz rir, o comove, o horroriza, o abala, o convence, o implica, o arrasta ou influencia. E como interioriza e processa tudo o que recolhe e vibra, brilha, irradia. E porque o faz. E como. Eu sei porque o faço, como o faço, o porquê de o fazer e apenas deixo o quando ao aleatório das circunstâncias. E nesse processo intervenho só eu e o que sinto, e o que sinto é o que escrevo, porque escrevo para perceber o que sinto. Haverá em mim átomos de outros e partículas de tudo o que me rodeia e me chega porque não estou só nem as minhas fronteiras são opacas ou impermeáveis, mas guio-me essencialmente pelos meus códigos e pelas leis do meu Universo mais próximo, onde os campos de energia se materializam no que sou e no que sou apenas. Não busco referências alheias nem me sei reger por códigos de outros e menos me revejo no que outros antes de mim disseram ou deixaram dito ou escrito. Tudo o que sinto vem de mim e me faz sentido a mim e não procuro convencer ninguém senão a mim mesma. Haverá formas mais doutas e eruditas de exprimir o que se sente, mais pensadas, mais construídas de reflexão, carregadas de filosofia aprendida, repletas de rodapés de referências bibliográficas escritas por outros, chamadas de atenção doutrinárias reconhecidas e respeitadas...Havê-las-á quando for esse o objetivo, o de reforçar o que se sente com o que outros disseram e sentiram e exprimiram e para quê e porquê? Porque se é feito disso, dessas referências alheias e pensadas por outros, um dia, ditas por outros, sentidas por outros mas não por nós. Eu sou eu, outros serão outros, cada um é o que é e sabe de si. Não explico ao outros o que devem ser, o que poderiam ser ou o que deixam de ser mas apenas o que sou e como sinto e por isso escrevo. Não pretendo ir nem um milimetro mais além daquilo que sou capaz de sentir e se mais alguém, além de mim, sente como eu, é pura coincidência, nunca consequência de uma pretensão. Deus deu-me apenas um e só um território. A caneta que encontrei serve para nele me escrever. Outras coisas serão "nomes de outros" e terão, por isso mesmo e como não podia deixar de ser "outros nomes".

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