Cada um sabe de si. Porque gosta disto, prefere aquilo, se
afasta do outro, se centra aqui. Porque corre, porque pinta, escreve, canta,
lê, desenha, constroi e conversa. O que o faz rir, o comove, o horroriza, o
abala, o convence, o implica, o arrasta ou influencia. E como interioriza e
processa tudo o que recolhe e vibra, brilha, irradia. E porque o faz. E como.
Eu sei porque o faço, como o faço, o porquê de o fazer e apenas deixo o
quando ao aleatório das circunstâncias. E nesse processo intervenho só eu e o
que sinto, e o que sinto é o que escrevo, porque escrevo para perceber o que
sinto. Haverá em mim átomos de outros e partículas de tudo o que me rodeia e me
chega porque não estou só nem as minhas fronteiras são opacas ou impermeáveis,
mas guio-me essencialmente pelos meus códigos e pelas leis do meu Universo mais
próximo, onde os campos de energia se materializam no que sou e no que sou
apenas. Não busco referências alheias nem me sei reger por códigos de outros e
menos me revejo no que outros antes de mim disseram ou deixaram dito ou
escrito. Tudo o que sinto vem de mim e me faz sentido a mim e não procuro
convencer ninguém senão a mim mesma. Haverá formas mais doutas e eruditas de
exprimir o que se sente, mais pensadas, mais construídas de reflexão, carregadas
de filosofia aprendida, repletas de rodapés de referências bibliográficas
escritas por outros, chamadas de atenção doutrinárias reconhecidas e
respeitadas...Havê-las-á quando for esse o objetivo, o de reforçar o que se
sente com o que outros disseram e sentiram e exprimiram e para quê e porquê?
Porque se é feito disso, dessas referências alheias e pensadas por outros, um
dia, ditas por outros, sentidas por outros mas não por nós. Eu sou eu, outros
serão outros, cada um é o que é e sabe de si. Não explico ao outros o que devem
ser, o que poderiam ser ou o que deixam de ser mas apenas o que sou e como
sinto e por isso escrevo. Não pretendo ir nem um milimetro mais além daquilo
que sou capaz de sentir e se mais alguém, além de mim, sente como eu, é pura
coincidência, nunca consequência de uma pretensão. Deus deu-me apenas um e só
um território. A caneta que encontrei serve para nele me escrever. Outras
coisas serão "nomes de outros" e terão, por isso mesmo e como não
podia deixar de ser "outros nomes".
 
 
Sem comentários:
Enviar um comentário