A linha da tua vida
Vimos dessas raízes lançadas na vida, no mundo, na terra não sabemos bem quando nem ao certo por quem menos ainda com que intuito e porém
Porém avançámos com determinação, ousadia e nem sempre em linha reta abrindo caminhos onde não os havia, lançando pontes, gerando certezas, tecendo malhas, passados, presentes
Demo-nos as mãos, beijámo-nos loucamente e  
Lutámos, uns com os outros e uns contra os outros e vezes sem conta, demasiadas, por nada que valesse a pena e chorámos, sózinhos por tudo o que fizémos em vão e porém
Porém, emergimos, de manhãzinha, bem cedo, na aurora de um rosa tenro e esbatido, e erguemo-nos em casas, castelos, catedrais e palácios e conquistámos, com força, unhas e dentes 
terras, espaços, lugares, títulos, doutos, elaborados, complexos, diferenciados
espuma.
Sentámo-nos muitas vezes ao final do dia a observar e ouvir a espuma da onda que rola pela beira da praia e se estende como um lençol de luz pela areia de pedrinhas coloridas, iluminando-as de ouro, da cor dos teus cabelos, 
Passo os dedos pelos teus caracois perfeitos e deslizo as mãos pelo teu corpo enxuto e firme, é a hora do sol por e há ainda tanto para fazer, contar, viver e ficamos a ver como se apagam as pegadas do caminho que nos trouxe até aqui
Já fui, já não sou, será que haverá ainda alguém, que não conheço, para ser depois de tudo e antes de voltar ao que um dia alguém me sonhou ser?
Sorris, que sabes tu, afinal de mim, de ti, de nós, de tudo? Nada. Apontas, aquela flor, aquela rosa, delicada e elegante, aquele ramo de camélia coberto de botões brancos ou o limoeiro em flor, quem sabe? 
O que queres ser meu amor companheiro, que me guias e segues há tantos anos nesta incógnita que nos serve de firmamento repleto, agora sim, de pequenas pérolas de luz diamante, contra um fundo de escuridão e que cruzam o universo intemporal e chovem, molhadas, na terra que as acolhe e se lançam, à conquista de uma nova vida que não sabemos como nasce nem como cresce nem porque floresce e murcha e cai, um dia, sabe-se lá quando, desfolhada, silenciosa, etérea e se junta
 a outras sementes sem fim. Onde tudo recomeça. 
Arrefeceu. A noite cobre a terra. Ficamos em silêncio. O mar recolheu a casa. A lua já espreita na pontinha dos pés pelo rebordo da serra. Deixa-me ver a palma da tua mão. Vês? É essa aí. A linha da tua vida.
 
 
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