O que a vida nos dá só nós sabemos
Sigo o entardecer entre as ramagens das árvores à frente da minha janela, as últimas canções dos pássaros que se preparam para recolher, sinto o primeiro calor que se vai do corpo num arrepio, esmorece a luz, esbate-se o horizonte, avança o sossego, a quietude, é quase hora do silêncio se impor atrás dos raios de sol que descem, descem pela serra abaixo até à linha do mar e dos rosas azulados, aquelas cores tão impossíveis como a harmonia do piano que sobe e desce e sobe e desce como se fosse uma renda a adornar este momento sublime em que o dia finaliza nestes acordes profundos e cheios de um volume ondulante e perfumado como o afrutado deste tinto sensível e delicado. 
São os anjos, as fadas, as nereidas, os duendes, esses habitantes da fantasia exuberante e romântica que entram pela minha janela cavalgando os últimos raios de luz e os acordes de um piano que arrepia, comove, apazigua, concilia, oiço o último chilrear do dia, o sol já se foi, sobe a lua, tímida, por trás do palácio encantado, o entardecer deu lugar à noite, pouso o copo vazio, o piano calou-se, a luz foi-se, eu e o silêncio azulado da noite através da janela, que mais nos pode dar a vida que não estes momentos de beleza infinita e sublime...
 
 
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