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sábado, 16 de outubro de 2021

 Palavras sentidas, gastas, baratas, de toda a gente

Adorava passar a vida a escrever. Deixar correr a tinta por tudo aquilo que me atravessa a alma, se cruza no meu pensamento, carrega a minha memória, enche e preenche a minha mente, coisas simples, a maior parte das vezes coloridas como a natureza, leves e ligeiras como a brisa, essa onda de vento que faz bailar a fantasia e espalha alegria pelo ar. Tudo o que gostava de dizer cabe em meia dúzia palavras que não pesam muito nem estão contidas nas lombadas doutas e literárias dos grandes, longe de mim e disso, caibo em pouco e de pouco preciso para expressar-me e contar o que sinto que não é mais do que o produto do que vejo, à minha volta. Podermos ser tanto, se soubermos sair de nós e ser o que nos rodeia, trepar como as madressilvas, brotar como a flor de laranjeira, esticar-nos pelo raio de sol fora até chegar ao horizonte, a esse recanto onde só se chega filtrado, suavizado, esbatido. Sou pelo dia fora até chegar onde quero, só preciso das palavras, de umas poucas palavras emprestadas da maioria das pessoas, esse sentir universal que é familiar a todos e no qual todos se sentem representados.
Escrever é dar voz a quem não tem e porém tem tanto para dizer. Palavras simples, palavras baratas, palavras gastas, palavras sem ambição. São essas as minhas e era delas que gostaria, eu, de preencher o meu quotidiano, de não fazer nada mais do que escrever essas palavras, sentidas, gastas, propriedade de toda a gente, preto no branco, para quem quisesse lê-las.

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