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sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Chamou-me a atenção o meu querido amigo Zé Vasco Pimentel, amigo dessa infância que nos cai em cima quando, por distração, abrimos o primeiro armário do nosso quarto das memórias, que o tempo está guardado nas coisas. É uma grande verdade, Para nos apropriarmos dele, basta olhar para um objeto, agarrar um pensamento e obrigá-lo a descascar-se como se de uma Baboushka se tratasse, parando, quando mais nos apetece, na estação de uma das pequenas aldeias da nossa memória para passearmos pelos momentos que o nosso estado de espirito, caprichoso, escolheu, nessa tarde. Eu habito, nesta casa, que agora é minha, em cada um dos objetos que me envoltam, desde que nasci. Desde que me lembro e me consigo pensar que eles habitam comigo. Embora nem todos me pertençam, pertencem à minha memória, ao meu tempo que neles também já existe. Não tenho apego às casas porque aprendi a mudar-me com a memória e a colocá-la pelas casas por onde vou passando, nos objetos, nas rotinas, nos percursos, nos gestos, nos ambientes recriados. Onde estou, sou, e comigo, a minha memória. Momentos felizes, os de desfolhar o tempo guardado. Nas coisas e em nós.
Maria Antónia Turras, Vasco Pimentel i 4 persones més

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