13 jan 2023
Os monstros que habitam a vida
Todos temos preocupações, angústias, medos, aflições. Acordamos de noite, olhamos o escuro, damos voltas e mais voltas. E mais voltas ainda à volta do mesmo círculo vicioso que volta ao princípio e alimenta ainda mais a angústia, a preocupação e o medo. Todos passámos por isto e bem sabemos que a solução nunca está nesse eu que acorda de noite e se bate e rebate e volta a bater em torno da mesma aflição labirintica e volta de novo ao ponto de partida. A maior parte das vezes, para não dizer sempre que nos encontramos nessas fases em que não vemos a saída ao túnel, não vemos mesmo a saída ao túnel. São percursos muito solitários, face a face com a sua própria circunstância submersa nessa névoa de enorme infelicidade que se cola a nós como uma teia de aranha peganhenta e opaca.
É assim. Acontece. Não há soluções milagrosas e de pouco ou nada servem os chavões de auto-ajuda em prol do faz-de-conta açucarado de duvidosa consistência que foram feitos para apaziguar as consciências de quem nos rodeia. Ninguém gosta de conviver com quem olha para as infelicidades e preocupações da vida com um realismo de aço. Fujo desses amigos sempre prontos a quererem contornar o nosso sofrimento. Alguns com boas intenções, não nego, mas a maioria porque não suportam a dor alheia.
O que serve, sim, é percorrer esse caminho espinhoso da solidão, da angústia e do medo aceitando que a vida tem estes monstros que se nos cruzam no caminho e nos interpelam, questionam, desafiam, massacram. Por vezes vieram para ficar, outras vezes desaparecem. Mas voltam. Só morrem no dia em que morrermos.
Eu dou muitas vezes a mão às minhas angústias e aos meus medos e converso inúmeras vezes com as preocupações. E nunca viro a cara às tristezas que me entram pela vida dentro sem serem convidadas. Há fases em que passo horas acordada de noite às voltas em busca de soluções para todas as preocupações que se acumulam na minha vida…
Aceite-se, é o meu lema. Não tenho o complexo nem o afã de ser super-herói do que quer que seja. Nem badalar otimismo falso aos sete ventos. Nem sequer acho que pedir ajuda aos outros seja o primeiro passo para sair do beco que não tem saída. Aceite-se significa que há que aceitar estes monstros pois a vida também os são, estes momentos em que parece que tudo desaba à nossa volta e não temos forma de nos aguentarmos à superfície. São sempre e só? Não. Tudo o que vem também vai. O que digo é que, enquanto assombram a nossa vida, de nada serve minimizar, esconder, burlar, fazer de conta. Aceite-se a fragilidade de ser-se frágil e de poder perder o pé nalgum momento e poder afogar-se. É a grande força que nos mantém à tona, apesar de tudo. Bom dia, está quase a nascer o sol.
 
 
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