18 setembro 2022
O meu recanto
Os recantos que se constroem são de certeza um espelho da nossa mente, da nossa consciência, da nossa forma de ser e estar. Recriamos as nossas alegrias, tristezas, memórias, amores, amizades, ternuras, interesses, conhecimentos. Sentada na senhorinha, além no canto, à secretária ou em pé, à beira, observo. Sigo cada ondular da linha que o meu olhar vai desenhando ao percorrer cada um dos objetos que aqui vou colocando ou que lá estavam porque vindos de trás, de outras gerações, herdados ou simplesmente deixados estar e vejo a minha consciência ou a memória, não sei ao certo, é como se cada momento ou lugar em que pouso fosse um nó do tecido com que está forrado o meu interior, a minha alma, o meu ser. Sou assim e assim me recrio nestes objetos, nestas histórias emolduradas, encadernadas, de prata, porcelana, biscuit ou china, coloridas ou simplesmente da cor que lhes foi dada ao nascer, momentos doces, sobretudo, pois são eles que usamos para nos abrigarmos das intempéries da vida.
Sou tudo o que coloco à minha volta, da forma como o vou colocando e ordenando no espaço e no tempo. Cada um dos objetos é uma história, um caminho, uma janela aberta, uma nova vida, um crescer contínuo de mim. Não sou, vou sendo, à medida que o meu olhar se perde no bosque frondoso e infindável que é a mente, as milhares de páginas, olhares, recantos, contornos delicados, filamentos, nós, raízes do tecido com que vou forrando a minha alma, o meu recanto, a minha vida.
Gosto de ir sendo e sou
no que me vou vendo
no espaço-tempo
Do meu pensamento.
O meu recanto
 
 
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