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domingo, 29 de janeiro de 2023

 18 junho 2022


Núvens sonhadoras

Passou por cima de mim um rebanho de pequenas núvens. Levantei os olhos ao céu e fiquei a vê-las desfilar, em forma de coluna vertebral, como se lhe quisessem dar sentido, talvez fossem em peregrinação, quem sabe, ou talvez fosse, tão simplesmente um engarrafamento de final da semana em direção a lugares de ócio ou descanso…que sei eu das núvens que migram de um lado para o outro pelas autoestradas do firmamento? Não sei nada e por isso invento e saúdo-as por se darem ao trabalho de passearem por cima do meu nariz com um inventário infinito de possibilidades pensativas gratuitas. No final até são ecológicas e amigas do ambiente pois qualquer que seja o espetáculo que imaginemos, por hipótese um desses picnicões gigantes tipo os do Continente, deixam tudo limpinho, varrido, lavado e desinfetado e o céu livre de novo para entreter pessoal como eu que não se limita a olhar para o céu e não pensar nada, que nada há que pensar, senão que temos sempre que organizar alguma coisa para preencher o olhar, forrar a casa dos pensamentos, mobilar a imaginação, vestir a alma, agasalhar o coração. Hoje imagino o céu uma enorme pastagem azulada repleta de ovelhinhas brancas, esfomeadas e disciplinadas em busca de alimento. Felizes. Quem não o seria se pudesse passear por esses campos celestes infindáveis e infinitos entre estrelas brilhantes e cometas apressados? Já imaginaram o silêncio e a paz? Se calhar, se fosse núvem ou me movimentasse entre elas, empoleirada nesse céu aberto, passaria o tempo a olhar para baixo, debruçada sobre a Humanidade minifundiária e extravagante a imaginar histórias ainda mais absurdas que esta que penso enquanto acompanho com o olhar esta estranha coluna vertebral que está a desfilar mesmo em cima da ponta do meu nariz fixado no céu. Núvens passajeiras! Finitas e com data de caducidade, como nós. Não sem antes sonharmos o infinito.


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