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domingo, 29 de janeiro de 2023

 17 dezembro 2022


Recantos de nós.

Recantos são zonas da alma que se vão construindo com pessoas, lugares, coisas, momentos, sons, acordes, músicas, palavras, letras, versos, livros, pinturas, silêncios. Memórias, recordações, gargalhadas prolongadas, exageradas, estrondos de alegria, quem não os guarda? Momentos, dias, semanas, temporadas mais tristes, mais estranhas que não soam a nós, que nos deixam a alma às intempéries, que acorda com frio e se deita enrolada em abraços que de pouco servem, e se guardam a eles próprios em cima daquela cómoda, emoldurada em  prata, guardada por uma flor do jardim já murcha mas que ainda faz sentido. Dias de festa, de alegria, de celebração, com banda sonora efervescente a saber a champagne, cores vivas, tecidos joviais, passo ligeiro e confiante, também os há, estes recantos cheios de energia, práticos, desinfetados, minimalistas, linhas retas, esquadrias, o mundo é meu! Recantos do passado que se entrelaçam como a vinha virgem entre os livros de capa de pele gasta e lombada inscrita a ouro já envelhecida, paisagens interiores deliciosas, perfumes sem nome, essências desconhecidas, intensas, refrescantes como a maresia. Quem não constrói altares de vivências inesquecíveis, compõe lugares de poesia que venera, coloca aquela tela naquele lugar tão especial, tem uma caixa, redonda, quadrada, forrada, de pele, com chave onde vai guardando, com carinho e fervor o sentido que dá à vida? A alma tem estes lugares a que chamo recantos, forrados do especial, do diferente, do complexo, do diverso, do único que somos cada um de nós.


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