Ainda a propósito de informação e saltitando agora para outra pedra no charco desta deambulação, mais além, imagino também que o que vemos, porque é conduzido como "bit" através de um nervo para uma determinada zona do processamento cerebral, está condicionado ao que o terminal de chegada - a central de processamento - oferece e apenas a isso. Mas imaginemos que esse nervo, em vez de desembocar nessa central, é desviado para outra central, por exemplo, a que alberga os bits que formam as emoções, os sentimentos (se é que essa central existe, é claro). Pergunto-me: será que veríamos os sentimentos em vez de vermos a realidade física que tão familiar nos é? Que loucura! E se o desvio fosse parar à central da memória? Jesus...que será que veríamos? O passado? Maior loucura. Embora, bem vistas as coisas é tudo uma questão de condutas, terminais de chegada e mecanismos interpretativos, porque tudo são bits.E não se me diga que não há, na central da memória,mecanismos que possam processar ou interpretar os bits transportados até essa central por um nervo ótico despistado e que não se possa criar uma avenida de dois sentidos da "ótica da memória". Talvez houvesse, num primeiro momento, algum alvoroço mas estou convencida que rápidamente a circulação se restabeleceria porque o cérebro é criativo e prevalece o "instinto" de sobrevivência, logo de adaptabilidade. Estão-nos vedadas estas auto-estradas ou nunca foram criadas porque...não? Haverá alguma coisa que o impeça? Olhando para a vida passada, em que todos fomos uma célula raquitica, enfezadinha e de âmbito informativo básico, tudo me leva a pensar que o futuro é promissor no que diz respeito à aquisição de novas funcionalidades. Poderá levar milhares de anos mas é uma questão técnica de interfaces informativas. Ou seja, é como se hoje quiséssemos que a torradeira funcionasse pelo simples desejo de a por a funcionar. Era preciso que existisse um adaptador interpretativo e um qualquer circuito adequado...
E por isso vou a correr escrever. Para que as ideias escorram depressa para o papel e dêem espaço às novas que se apressam a tomar forma. Escrever é forrar as paredes interiores de ideias arrumadas.
terça-feira, 23 de setembro de 2014
Uma forma de estar no mundo
Portugal, a minha paixão, Europa, a minha referência, o mundo, a minha fronteira. Como uma árvore que arranca da terra, se ergue orgulhosa e floresce até aos limites da seiva criativa. Nada deve ser pensado nem feito sem que tenhamos consciência de quem somos, onde estamos e onde devemos chegar. Nada pode ser como ontem, quando cruzar os oceanos era uma façanha de um punhado de herois, a Europa se gladiava para impor uma identidade única e o nosso país deixou escapar o benefício das rotas que descobriu. Hoje, as nossas raízes são parte dessa árvore comum que é a Humanidade e não só temos a obrigação de contribuir para que floresça como devemos ter a inteligência e a tenacidade para devolver ao país os benefícios desta forma de estar no Mundo.
Que as raízes floresçam de novo!
Portugal é um país exausto, depauperado, entristecido. Sentado à porta, no degrau da pobreza, lamenta-se profundamente com a sorte que não teve, o azar que se lhe cruzou no caminho, a desgraça que lhe entrou pela casa dentro, a saudade de tudo aquilo que nunca chegará a ter. Desiludido consigo próprio, zangado com o mundo, olha fixamente o chão, sem saber para onde ir, como recomeçar, que dias virão aí? sabe-se lá...
Não é fácil falar-lhe de esperança, de elogiar as suas capacidades, de aliciá-lo com slogans, assinalar casos de sucesso que despontam aqui e ali, como cometas que não vêm para ficar. Tudo à volta e ele próprio é uma planície arrasada onde ainda cheira a fumo, no rescaldo de um grande incêndio que fechou o ciclo de uma floresta pujante e que deu frutos, que saciaram uma sede que foi letal.
Olhar de frente. Olhar-se de frente. Cortar o que resta dos coutos enegrecidos, espalhá-los pelo chão e regar. Regamos todos, bendizemos a chuva, somos muitos a começar. Somos muitos a querer mudar de vida, a pisar as cinzas, acamar o chão, para deixar crescer. Não virá ninguém ajudar-nos, nem é preciso. Acreditamos que a terra onde nascemos nunca morre nem nunca arde até à essência. As árvores nascem, crescem, morrem e renascem de novo. E um povo que tem valores levanta-se sozinho, assim como as raízes, com o tempo, florescem de novo
Não é fácil falar-lhe de esperança, de elogiar as suas capacidades, de aliciá-lo com slogans, assinalar casos de sucesso que despontam aqui e ali, como cometas que não vêm para ficar. Tudo à volta e ele próprio é uma planície arrasada onde ainda cheira a fumo, no rescaldo de um grande incêndio que fechou o ciclo de uma floresta pujante e que deu frutos, que saciaram uma sede que foi letal.
Olhar de frente. Olhar-se de frente. Cortar o que resta dos coutos enegrecidos, espalhá-los pelo chão e regar. Regamos todos, bendizemos a chuva, somos muitos a começar. Somos muitos a querer mudar de vida, a pisar as cinzas, acamar o chão, para deixar crescer. Não virá ninguém ajudar-nos, nem é preciso. Acreditamos que a terra onde nascemos nunca morre nem nunca arde até à essência. As árvores nascem, crescem, morrem e renascem de novo. E um povo que tem valores levanta-se sozinho, assim como as raízes, com o tempo, florescem de novo
domingo, 21 de setembro de 2014
É a hora
Venero o poeta que amava profundamente o nosso país e que deste modo tão místico de cantar o seu desencanto, nos deixou, porém, esta sua forma particular de entender a porta que se abria para um renascer "por entre o nevoeiro". A imagem é linda, profunda e parece que fica a ecoar pela noite dos tempos fora. Glória a este CIDADÃO-POETA de Portugal que soube amar o nosso país com todo o seu génio.
Fico maravilhada com o facto de pertencer a um povo e a uma terra que foram e são amados por Homens e Mulheres verdadeiramente excecionais como Fernando Pessoa e tantos outros, de tantas maneiras diferentes. E se é verdade que atravessamos tempos difíceis, não é menos verdade que temos recursos e capacidades que nos distinguem, diferenciam e nos elevam ao que de melhor existe no mundo.
domingo, 7 de setembro de 2014
Quando escrevo
Quando escrevo, fecho os olhos e pinto as cores e a música das palavras que vou colhendo, pela memória fora, uma a uma, o ritmo, a vírgula, a forma de uma semifusa, jorros de lilases, rosas brancas, malmequeres doirados, por vezes, um violino, no infinito de uma paisagem solitária, ténue e tão só, ao entardecer, por outras, nunca sei, não sou dona do que escrevo, que mais não é senão a alma que de olhos fechados me soa e a memória me traz, à meada de palavras que vou pintando, uma a uma, na melodia que não pedi e não peço e que é para mim, escrever.
domingo, 24 de agosto de 2014
O REI VAI NU!!!!!
Portugal é um país onde a corrupção atinge níveis alarmantes devido à ausência total de mecanismos de salvaguarda e punição. É absurdo que ninguém se levante e diga, em alto e bom som, "O REI VAI NÚ"!!!! Porque efetivamente o rei vai mesmo nú, nas nossas barbas, com a nossa cumplicidade calada, indiferente, cobarde, quase. É difícíl, claro que é difícil, levantar a voz e denunciar tudo o que todos sabemos, alguns até sabendo-o com pormenores documentados. Mas já nem sequer precisamos de recorrer a documentos, bastava fazer valer a ética que muitos nos prezamos de ter para que todos aqueles que de alguma forma corrompem a vida política e económica do nosso país se abstivessem de o fazer, fossem banidos por o fazerem, perseguidos, condenados, obrigados a indemnizar o país e a Comunidade pelo mal que causaram e causam. Não é maledicência, nāo sāo conjeturas, invençōes. É tāo escandaloso, tāo desenvergonhado, tão normalizado que o absurdo é mesmo que o grito do "O REI VAI NÚ!" seja um absurdo. Uns quantos gatos espertalhōes, sem moral nem carater, devotados apenas ao poder que têm e que exercem, em prol do seu único bem, controlam e silenciam 10 milhōes de pessoas de forma a poderem, impune e descontroladamente apropriar-se das instituições, do dinheiro, da decisões, da sorte de nós todos. Não somos cidadãos, não somos livres, não valemos nada, a democracia é uma farsa, o Estado de Direito uma ilusão...a não ser que alguém diga e se oiça dizer que o rei vai nú e venham muitos outros, depois, confirmá-lo. Basta uma vez, a primeira. E assim como o Ricardo Salgado caiu, outros cairiam também. Todos, esperemos!
terça-feira, 19 de agosto de 2014
Estamos aqui
"Estamos aqui!" É o que, afinal de contas, todos queremos saber e ouvir. Saborear, nos bons e nos maus momentos. Levamos uma vida inteira a lutar por isso, a construir isso, a trabalhar nisso, por vezes a desdenhá-lo, a passar por cima, ao lado, a pisá-lo, deixá-lo sem resposta. Seja como for, o nosso destino é uma linha fina que avança à nossa frente e se vai desenhando no chão conforme vamos pisando o chão, com todo o nosso peso físico, moral, emocional mas nunca sós. "Estamos aqui" é o que mais queremos ouvir quando paramos no caminho ou algo nos faz parar. Estou aqui,meu filho. Estou aqui, pai, estou aqui meu amor, estou aqui, minha amiga, meu amigo, minha avó, meu companheiro...Estou aqui. Onde devo estar, onde quero estar, onde não posso deixar de estar, onde precisam que esteja, onde preciso de estar. Tudo o que importa na vida se resume a esta afirmação.
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
A SOCIEDADE QUE QUERO CONSTRUIR
Tudo
depende da lente através da qual se observa, se lê e se interpreta a realidade.
"Está a emergir na nossa vida uma nova civilização e por toda a parte há
cegos que tentam suprimi-la." (Alvin Toffler, A Terceira Vaga, 1984,
primeira frase da Introdução). Volvidos exatamente 30 anos após a publicação
deste livro, a terceira vaga já não se insinua por trás da segunda vaga, como
descrevia Alvin Toffler então, senão que atingiu a linha da frente e é, penso
eu, aquela a que estamos, neste momento, a fazer face, sem contemplações. Esta
vaga nasce com o advento do computador e consolida as suas formas, tonalidades
e potencial de impacto com a generalização da Internet, que nos liga a todos
individualmente com cada um e globalmente com todos. Não pretendo escrever
teses mas sim explicar como interpreto a realidade à minha volta e sobretudo
como quero aproveitar esta vaga para transformar a nossa sociedade numa
sociedade melhor. A organização social e económica e o consequente sistema
político em que vivemos foi a resposta que demos à revolução industrial. O
Estado do Bem-Estar que nasce no pós-guerra foi o melhor sistema que
conseguimos extrair do potencial dessa segunda-vaga industrial. E foi, até há
pouco (e de certo modo ainda é), em especial na Europa, o sistema que maior
bem-estar nos trouxe a todos: Educação e Saúde universais, proteção social
garantida, uma panóplia de meios e instrumentos de realização pessoal e
profissional, acesso massivo à Cultura e ao lazer, riqueza e prosperidade.
Todos somos conscientes disso. E o sistema político que inventámos refletia a
forma como quisemos organizar a gestão deste "progresso
socio-económico": a cessão da nossa representação política em grupos
políticos, a eleição de representantes dos vários interesses gerais em causa,
renováveis.
Perfeito.
Com o
advento do computador e, em especial, Internet, cria-se uma relação individual
de cada um de nós com tudo o que nos rodeia. Cai por terra a noção de
intermediação, de representação, de coletividade. Ao ter acesso, individualmente,
à informação, a toda e qualquer informação que circula no Universo, eu sinto
que não preciso que grupos específicos de pessoas, a quem eu tinha entregue a
gestão do meu progresso, façam essa gestão por minha conta. Acresce que os
abusos, que eu vejo apenas como sinais colaterais ou aceleradores da mudança
que está a ocorrer à minha volta, que foram perpetrados pelos meus
representantes (a quem eu tinha entregue a gestão do progresso) me levam a
questionar a idoneidade e eficácia do sistema. Começa o processo de
"desafeto" e o refúgio nesse individualismo confortável que me é dado
por poder "passar por cima" dos grupos institucionalizados em quem eu
tinha confiado a gestão do meu progresso e configurar o meu próprio progresso.
O mercado global ajuda, a oferta é brutal e acessível, à distância de um
simples clic eu posso fazer o menu do
meu progresso. As regras de antes já não valem, os meus representantes
económicos, sociais, culturais e políticos já não controlam o cumprimento das
regras no seu espaço de competência. O acesso à informação e o seu tratamento
"inteligente" confere um poder avassalador que leva consigo na
enxurrada Instituições seculares, Governos, Partidos, empresas, tudo...Tudo à
nossa volta deixou de ser imune. Faz-me lembrar um filme que vi quando tinha 12
anos, o Poseidon (vi o filme com a Ines Raimundo
von Funcke, em 1972, no recém-estreado Cinema Castil, numa matinée
de sábado) em que com impressionante realismo nos era dado a viver a subida inexorável
da água nos salões repletos de pessoas em pânico). Neste ambiente de pânico, de
insegurança, é difícil ser otimista e esperançado. Mas como disse no início,
tudo depende da lente com que se lê e interpreta a realidade que nos é dada a
viver. E aí entra a nossa capacidade de destrinçar o trigo do joio e de usar
apenas o material que tem capacidade de construir a nova plataforma existencial
que nos permitirá "surfar" a vaga que nos atingiu de pleno. E há
sinais mais do que evidentes de que se abriram oportunidades mais do que
excecionais para construirmos uma sociedade capaz de organizar as novas formas
de progresso social e económico e construir um sistema político que seja a
expressão fiel da forma como nos organizamos. Há vários sinais esperançadores:
1. O Papa que temos. Atribuo-lhe a mesma relevância na construção desta nova sociedade como a que teve João Paulo II, quando foi eleito. E já está a construí-la. As suas mensagens e intervenções dão-nos o mote, basta lê-las com a lente certa e contextualizá-las.
2. A ruina dos excessos do capitalismo. É evidente que assistimos não à ruína do sistema capitalista mas dos seus excessos. Os sinais, à nossa volta, são mais do que estrondosos.
3. A procura errante e errática de novos afetos. Religiosos, culturais, políticos. O individuo não nasceu para viver sozinho por muito independentes e autónomos que sejamos. Procuramos afetos para partilhar, para nos preencherem, para darem sentido à nossa vida. Hoje, procura-se sem tino e só se encontram refúgios que, com evidência, não satisfazem.
4. A construção efetiva da sociedade da informação. Há uns anos atrás começou-se a falar na era da informação e na sociedade da informação. Fora alguns gurus, duvido que algum de nós conseguisse visualizar o significado e alcance destas realidades. Hoje é diferente. A nova sociedade que estamos a construir assenta na informação como substrato transacionável. Já não é a agricultura, nem o produto físico mas sim a informação que vendemos, compramos, gerimos. É ela que é o valor transacionável. Isso faz de cada um de nós um ativo muito maior do que o que éramos porque o nosso cérebro está estruturado para reter, processar, usar, dar valor à informação.
Estes são apenas alguns dos sinais que leio e os que me interessam para construir a nova sociedade. É possível fazê-lo, em especial no nosso país, onde estão reunidas todas as condições para deitarmos mãos à obra. Quero construir uma sociedade que valorize cada um de nós mas que lhe ofereça o contexto para que esse valor tenha reflexo e consequências na forma como é usado esse valor: somos um, é certo, mas na construção do todo, esse valor individual tem que ser respeitado. A habilidade está em encontrar um sistema económico, cultural e político que tenha em conta o valor individual de cada um e que dele saiba extrair todo o potencial para a criação de um valor coletivo justo e equilibrado. Surge, assim, a noção de valor social coletivo. A sociedade que quero construir no meu país deverá organizar-se para ser capaz de criar e gerir este "valor social coletivo". Os seus fundamentos são societais mas não por isso deixam de ter uma expressão prática a nível económico e político. Mas isso será objeto de uma próxima reflexão porque neste momento o café acabou, o pessoal em casa já está inquieto, o dia avança e a agenda da confeção desta nova sociedade exige que me dedique a isso mesmo: a construí-la. Porque tudo aquilo que penso e escrevo, depois, traduz-se num trabalho de formiga que não esquecendo o quadro mais global, está feito de ações pequenas que se vão juntando umas às outras, pacientemente, paulatinamente, eficazmente. Para construir uma sociedade melhor no meu país. Foi para isso que vim para Lisboa depois de estar 25 anos fora. Já somos uns quantos a fazê-lo. Por isso, até mais depois.
13.08.14
MCMP
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
Por uma nova economia social chamada "cívica"
"It is urgent that governments throughout the world commit themselves to developing an international framework capable of promoting a market of high impact investments, and thus to combating an economy which excludes and discards."
Estas são palavras do Santo Padre Francisco, que apelou à criação de um mercado de investimentos de impacto, ou seja, um mercado onde o investimento deixa de ter prioritariamente um retorno financeiro para passar a centrar-se no retorno social. 
No link abaixo, a reportagem do périplo do Ministro Poiares Maduro por Portugal em busca de projetos e iniciativas onde possa ser aplicado o investimento de impacto que será disponibilizado através do Fundo de 122 milhões de Euros, recentemente anunciado pelo Governo.
Um pouco mais abaixo faço referência a um artigo do New Yorker onde se explica que as empresas normais podem também desenvolver atividades de impacto social, um passo em frente na tradicional responsabilidade social corporativa, uma vez que os acionistas abdicam de parte da remuneração financeira do seu capital para darem relevância ao impacto social.
Destes três apontamentos podemos inferir que caminhamos todos no mesmo sentido. Para uma economia que deve estar orientada para a melhoria das condições de vida das pessoas, especialmente das mais desfavorecidas e excluídas e que não se centre apenas na remuneração do capital e menos quando essa remuneração "a todo o custo" conduz inevitavelmente ao aumento do fosso entre ricos e pobres. 
Tanto a economia essencialmente capitalista como a economia tradicionalmente social devem fazer um esforço para se encontrarem a meio de um caminho mais justo mas também mais sustentável. Uns devem abandonar a ideia da remuneração abusiva do capital e os outros devem evoluir da dependência do subsídio sem retorno nenhum para formas mais sustentáveis de prestar serviços. Nem uma coisa nem outra são admissíveis. Nenhum destes extremos conduz a uma melhoria efetiva das condições de vida das pessoas. E é este o verdadeiro objetivo de uma sociedade: organizar-se de forma a garantir o progresso e o bem-estar de todos. 
A transição para esta nova economia não é fácil. Em primeiro lugar porque não estamos organizados para garantir estes objetivos. Em segundo lugar porque para evoluir é necessário sair da zona de conforto e uns e outros estão ancorados na inércia, na tradição, na ganância ou na simples mediocridade. Vai ser necessário "revolucionar" e injetar na mentalidade das pessoas o gosto pela inovação social. A crise já obrigou muitos a procurarem soluções para as suas vidas mas são as Instituições as que mais necessitam dar este "salto mental" para novas formas de estar, colaborar, partilhar, construir. Somos todos chamados a colaborar para inovar e a não ver nisso uma temeridade mas sim uma necessidade absoluta de sobrevivência. E este apelo a todos é o que qualifica a nova economia social como cívica. Não se pode deixar apenas nas mãos dos agentes económicos e sociais a resolução dos problemas, necessidades ou desafios a que a nossa sociedade se enfrenta. Se queremos todos uma sociedade mais justa para todos, é como cidadãos que somos que temos a obrigação de colaborar e intervir. 
Há que repensar sériamente a forma como estamos organizados hoje e encontrar novas formas de participação e colaboração cívica, fórmulas estas que rompem as fronteiras das Instituições, as diluem, para encontrar novas formas de partilhar as responsabilidades pela ação política, económica e social. Cada um de nós conta e todos, em conjunto, contamos. O todos e cada um de nós fará com que a nossa democracia tenha que passar a ser da responsabilidade de cada um e massivamente de todos. Será uma micro-democracia massiva em torno de uma economia que investe na inovação com retorno e impacto social. 
Está aí, ao virar da esquina. São muitos a convergir para o mesmo. Queremos ser melhores do que somos e é urgente definir como vamos sê-lo.
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
A democracia cívica, ponta de lança de um projeto coletivo europeu que começa em Portugal
A democracia cívica, ponta de lança de um projeto coletivo europeu que começa em Portugal (que já está estratégicamente colocado na ponta mais ocidental da Europa, zona de comando)
A democracia portuguesa sofre de vários males, que vêm de longe no tempo e da profundidade da ausência de uma cultura cívica. Apesar de sermos um povo senão católico pelo menos de inspiração ou tradição católica, surpreende como os ensinamentos católicos, às vezes os mais básicos, na prática, são esquecidos quando se trata de ter em conta, o Outro, na nossa esfera de ação. A prática dos ensinamentos cristãos, digamos assim, deveria ser suficiente para que os princípios básicos da democracia fossem exercidos sem grandes distorções ou desvios...Mas não. Algo não funciona quando olhamos à nossa volta e detetamos, continuamente, no comportamento das pessoas, incivismo. Desde o papel deitado sem pudor para o chão, as ultrapassagens selvagens, o desrespeito pelos professores, a falta de diálogo político, o abuso dos mais fracos, a prepotência do Estado, até à simples tentativa, generalizada, de fazer prevalecer os interesses próprios sobre os interesses do Outro. Com este substrato cultural como pano de fundo, é difícil fazer funcionar corretamente a democracia. Como é lógico, os nossos representantes políticos não são diferentes da maioria e portanto, exigir-lhes comportamentos que, cada um, na sua esfera de ação não tem, não só é ridículo como hipócrita.Por isso fico revoltada quando oiço e vejo alguém levantar o dedo acusatório contra os "eles", geralmente em tom moralista, como se os "eles" fossem marcianos vindos de outro planeta e impostos à coletividade de vítimas que somos os "nós" por um "Alguém" incerto, habitante de um "algures". Eles são apenas alguns de nós, iguais à maioria de nós, uma vez que foi essa maioria de nós que os elegeu. E por isso é que não basta rodar e colocar lá outros porque será de novo uma maioria de nós que os elegeremos. E se a maioria de nós é pouco democrática e pouco cívica, porque razão é que os que elegemos deveriam ter outro comportamento? Pelo sentido de Estado? Porque é automático que ao ser eleito se adquira e se exerça, sem mais, a noção de interesse público? Ó vã esperança...Por muitas reformas, leis ou decretos que se aprovem, quando não existe, entre a generalidade das pessoas, esse sentimento profundo de que a base da convivência democrática e cívica assenta no respeito pelo "Outro" - o que para todos os católicos está diretamente relacionado com um ensinamento básico de Cristo, Ama o próximo como a ti próprio, nada mudará. Mas não desmoralizemos. Porque a teoria, todos conhecemos (há países em que nem a teoria é conhecida) e basta que cada um de nós seja consciente disso e o pratique. Apelar à consciência das pessoas por si só não chega. É preciso criar um sistema que se articule em torno da consciência e responsabilização individual, em primeiro lugar e só depois coletivamente. Portugal sofre de uma desresponsabilização individual em prol da sua diluição coletiva. O tal "eles" que tão longe está do "nós" e do "eu". "Eles" não existem e o "nós" é o conjunto de "eus" que cada um controla e comanda. A democracia deve pois navegar desse sistema coletivo de desreponsabilização individual para um sistema em que cada um de nós, efetivamente, tem a capacidade e a responsabilidade do que acontece. Esta é a noção de democracia cívica que professo. Que leva com ela um sistema económico também baseado na responsabilidade individual e que se constroi, depois, em graus mais sofisticados de responsabilidade coletiva. De baixo, para cima. Degrau a degrau. O centralismo real foi a resposta à necessidade de criar os Estados e afirmar o poder real. A Revolução Francesa foi a consequência dos abusos dessa monarquia. No século XXI temos a oportunidade de criar algo novo com os ensinamentos das várias experiências. E como sempre, a Europa pode ser esse cenário criativo. E Portugal, devido à crise, o laboratório de ensaios. Não há lugar para desmoralizações. O momento é de criatividade e construção. Os sinais estão aí, à solta, à nossa volta. Não há que esquecer que em épocas anteriores nos coube a tarefa de descobrir e desbravar. Essa é a nossa missão coletiva. Daí termos sido colocados na ponta mais ocidental da Europa. Não é por acaso. Bom domingo!
A democracia portuguesa sofre de vários males, que vêm de longe no tempo e da profundidade da ausência de uma cultura cívica. Apesar de sermos um povo senão católico pelo menos de inspiração ou tradição católica, surpreende como os ensinamentos católicos, às vezes os mais básicos, na prática, são esquecidos quando se trata de ter em conta, o Outro, na nossa esfera de ação. A prática dos ensinamentos cristãos, digamos assim, deveria ser suficiente para que os princípios básicos da democracia fossem exercidos sem grandes distorções ou desvios...Mas não. Algo não funciona quando olhamos à nossa volta e detetamos, continuamente, no comportamento das pessoas, incivismo. Desde o papel deitado sem pudor para o chão, as ultrapassagens selvagens, o desrespeito pelos professores, a falta de diálogo político, o abuso dos mais fracos, a prepotência do Estado, até à simples tentativa, generalizada, de fazer prevalecer os interesses próprios sobre os interesses do Outro. Com este substrato cultural como pano de fundo, é difícil fazer funcionar corretamente a democracia. Como é lógico, os nossos representantes políticos não são diferentes da maioria e portanto, exigir-lhes comportamentos que, cada um, na sua esfera de ação não tem, não só é ridículo como hipócrita.Por isso fico revoltada quando oiço e vejo alguém levantar o dedo acusatório contra os "eles", geralmente em tom moralista, como se os "eles" fossem marcianos vindos de outro planeta e impostos à coletividade de vítimas que somos os "nós" por um "Alguém" incerto, habitante de um "algures". Eles são apenas alguns de nós, iguais à maioria de nós, uma vez que foi essa maioria de nós que os elegeu. E por isso é que não basta rodar e colocar lá outros porque será de novo uma maioria de nós que os elegeremos. E se a maioria de nós é pouco democrática e pouco cívica, porque razão é que os que elegemos deveriam ter outro comportamento? Pelo sentido de Estado? Porque é automático que ao ser eleito se adquira e se exerça, sem mais, a noção de interesse público? Ó vã esperança...Por muitas reformas, leis ou decretos que se aprovem, quando não existe, entre a generalidade das pessoas, esse sentimento profundo de que a base da convivência democrática e cívica assenta no respeito pelo "Outro" - o que para todos os católicos está diretamente relacionado com um ensinamento básico de Cristo, Ama o próximo como a ti próprio, nada mudará. Mas não desmoralizemos. Porque a teoria, todos conhecemos (há países em que nem a teoria é conhecida) e basta que cada um de nós seja consciente disso e o pratique. Apelar à consciência das pessoas por si só não chega. É preciso criar um sistema que se articule em torno da consciência e responsabilização individual, em primeiro lugar e só depois coletivamente. Portugal sofre de uma desresponsabilização individual em prol da sua diluição coletiva. O tal "eles" que tão longe está do "nós" e do "eu". "Eles" não existem e o "nós" é o conjunto de "eus" que cada um controla e comanda. A democracia deve pois navegar desse sistema coletivo de desreponsabilização individual para um sistema em que cada um de nós, efetivamente, tem a capacidade e a responsabilidade do que acontece. Esta é a noção de democracia cívica que professo. Que leva com ela um sistema económico também baseado na responsabilidade individual e que se constroi, depois, em graus mais sofisticados de responsabilidade coletiva. De baixo, para cima. Degrau a degrau. O centralismo real foi a resposta à necessidade de criar os Estados e afirmar o poder real. A Revolução Francesa foi a consequência dos abusos dessa monarquia. No século XXI temos a oportunidade de criar algo novo com os ensinamentos das várias experiências. E como sempre, a Europa pode ser esse cenário criativo. E Portugal, devido à crise, o laboratório de ensaios. Não há lugar para desmoralizações. O momento é de criatividade e construção. Os sinais estão aí, à solta, à nossa volta. Não há que esquecer que em épocas anteriores nos coube a tarefa de descobrir e desbravar. Essa é a nossa missão coletiva. Daí termos sido colocados na ponta mais ocidental da Europa. Não é por acaso. Bom domingo!
sexta-feira, 13 de junho de 2014
Depois de passar em bicas dos pés entre a lixaria que vai por Lisboa, embarquei no Alfa Pendular (o nome de pendular é horrível) rumo ao Porto onde não há festa. Viajar de comboio é a forma mais simpática e civilizada de viajar. Ora bem. Cómodamente sentada, sem estar a cheirar com a ponta do nariz o estofo da cadeira reclinada do companheiro da frente, o telemovel a carregar mais o computador em cima de uma mesa ampla, folgada, o jornal, o café (muito mediocre, mas eram 7 da manhã e agradece-se) tenho Internet e posso aceder aos ficheiros do trabalho. Pelas vidraças, panorâmicas, sinto que viajo, que estou mesmo a viajar, ou seja, a paisagem vai desfilando à minha volta, tranquilamente e eu vou podendo apreciar os primeiros planos mais fugidios, os segundos, a uma velocidade cómoda que me permite ir identificando algum detalhe, e finalmente, com o devido sossego e parcimónia, o plano lá do fundo da paisagem, serrarias ondulantes ou planícies verdejantes, o mar...que maravilha, refrescante! Esperguiço-me, não incomodo, é quase como estar lá na minha sala, em casa, enquanto no entretanto, pela janela fora corre o filme do nosso país radiante e todo em flor. Recebo um abraço do querido amigo Antonio Rebello De Andrade, porque hoje é dia 13 de junho e se fosse viva, a minha mãe faria 81 anos. Logo à noite, em Sintra, vou por uma daquelas suas rosas na jarrinha ao lado da fotografia. A melhor homenagem que lhe podia fazer. De novo o mar, estamos em Espinho, quase a chegar. Que bom que é viajar. De Alpha...a desfilar a paisagem... pendular!
Dia de Santo António

Eu nunca percebi porque é que as pessoas se embebedam e menos percebo ainda porque é que têm forçosamente de se embebedar coletivamente nas festas, sejam elas populares ou não...vejamos: é mais divertida a festa quando, em virtude do alcool, se perde a noção onde se está, o que se faz, com quem e porquê? Eu já senti algumas vezes, pelo efeito do segundo ou terceiro copo de vinho tinto, esse delicado véu que tolda o olhar e o espírito e nos distancia da realidade mais imediata e posso imaginar que o véu pode deixar de ser um filtro velado para passar a ser um autêntico inibidor da razão e dos sentidos. Há mais e melhor festa com o alcool, é isso? Eu cá para mim, tudo o que passa desse limite da realidade deliciosamente toldada, é uma alienação e equiparo o alcool a uma droga como outra qualquer: Basta hoje andar pelos despojos da orgia coletiva espalhados pelas ruas de Lisboa e perguntar ao primeiro que zigzaguea com duas toneladas de ressaca em cima e um ar perdido no tempo e no espaço,se se lembra do que fez na noite anterior...não interessa a resposta...Graças a Deus que os festejos são na véspera do dia dedicado a S., Antonio. Se ele visse o que hoje vai pelas ruas de Lisboa então é que passava a ser definitivamente de Pádua. Não tenham dúvidas! Ou se têm, passeiem-se pelas ruas de Lisboa antes que passem os varredores. Nunca imaginei, de verdade!
quinta-feira, 12 de junho de 2014
A Inveja
A inveja é um sentimento menor, da coleção daqueles que arrancam lá do fundo das fragilidades e que curiosamente acabam por se impor a muitos outros bons sentimentos e até à inteligência. Apesar de tudo e bem vistas as coisas, a inveja também faz parte daquele set de sentimentos que podem ser equiparados a uma má postura física; é passível de correção. Deveria haver aulas de pilates para corrigir a inveja, simples exercícios que explicassem e provassem que se trata de uma fragilidade emocional interna que nasce algures na madrugada da existência e leva o ser humano a edificar o seu valor à custa da desvalorização alheia. Ora, todo o ser humano tem valor próprio, pode crescer com pujança e brilhar com luz própria. Tantos ginásios que se criam para corrigir posturas físicas e tão poucos nascem para erradicar este mal que corrói e mina a vida em comum. Estou a falar a sério. Existem tantos movimentos de entreajuda para suprir as carências materiais das pessoas e tão poucos para pacificar a alma dos invejosos, que os há aos magotes e em excesso nas nossas vidas, à nossa volta, espalhados pelas instituições, em lugares onde poderiam destacar o que há de bom na coletividade. Às vezes era tão fácil encontrar a explicação certa para as anomalias do nosso país. Muito do que nos acontece, muito do que sucede à nossa volta, alguma das causas do nosso insucesso coletivo derivam desta postura errada de quem teve ou tem capacidade para transmitir à sociedade qual deveria ser a postura certa. A inveja acaba assim, por força desta influência, um sentimento coletivo dominante na sociedade, enquinando completamente o sucesso coletivo. Mandela foi um líder de exceção não porque tivesse sido um político sagaz e oportunista mas porque no seu interior prevaleceu um conjunto de sentimentos que forraram as suas convicções políticas de uma generosidade que entrou na História da Humanidade. Se tivesse deixado que a inveja e outros sentimentos semelhantes prevalecessem sobre outros bons sentimentos, hoje ninguém se lembraria dele e sabe-se lá o que poderia ter acontecido na África do Sul...A quem sente vocação social-empreendedora, a minha sugestão é: no nosso país, o combate à inveja é de interesse geral. Basta calcular o que deixámos de ganhar pelo facto desse sentimento -e podemos estar de acordo nisso -ser um sentimento dominante na nossa sociedade. Um ginásio anti-inveja tem um impacto social garantido! E a sua replicação a toda a geografia nacional poderia mudar o rumo do país! Ou não?
quarta-feira, 4 de junho de 2014
Haja paciência!
Há dias em que há pachorra. Condescendemos simpáticamente com o mundo cão, minimizamos desportivamente alguma velhacaria mais grosseira, somos até capazes de produzir alguns tangos retóricos a quem não merece, distribuímos algumas flores mimosas a cepos aregimentados, uma frasezinha catita aqui, um piropo bem flausino acolá, pulverizamos o mundo com jasmim porque, de facto, é-nos possível dar cor ao regimento de macilentos e anémicos caráteres que "se arrecuam servis" ao nosso lado. Mas há outros dias em que não. Há outros dias em que o convívio com a grande legião dos intrigantes, dos bajuladores, dos ambiciosos sem agenda, dos sensaborões e dos hipócritas, que caminha únicamente pelo que algures é caprichosamente decretado como oficialmente transitável, nas nossas barbas, provoca dispepsia. Há dias em que acordamos com uma paciência reduzida a sujeito e predicado e não tolerante com adjetivos, advérbios, que ferve em dois dedos de água quando face a face com o espírito nacional do " imploro, submissamente a valiosa proteção de V. Exª", que os há, um pouco por todo o lado na organização geografica da nossa crosta social. Nesses dias, pois...não nos vale sequer uma qualquer sagaz e divertida tertúlia entre amigos precisamente porque verificamos que o vinagre agrava o enjoo e não cura contra a cor de cidra, o mau hálito, as pernas cambadas, a espinha torcida, algum tédio da vida e a muita caspa dos ilustres alquimistas que, para sobreviverem não se importam de fazer parte da galeria de personagens sagazmente retratados pelo nosso querido Ramalho Ortigão. E quando é ultrapassado esse obstáculo, que causaria horror a qualquer um, quando pouco importa a forma como a História pessoal e universal nos levará com ela retratados, não há nada a fazer...é esperar que a paciência nos venha com um dos muitos cafés que é preciso tomar ao longo do dia. A Uva, ao meu lado, parece dizer: "Não sejas tola". Mas como ainda não fala, não tenho a certeza de poder socorrer-me do conforto que seria estar a ser simplesmente tolinha...Paciência!
domingo, 1 de junho de 2014
Informação II
A verdade é que o nosso cérebro, imagino eu, apenas faz uso da função computadora para aquilo que é básico. Armazena "bits", infinitos, e põe-nos todos em relação uns com os outros. Se calhar não de uma forma ótima mas da forma mais eficiente que lhe deve ser possível. Mas depois (e continuo a imaginar) deve haver funções mais sofisticadas, em que da armazenagem e interelacionalidade passamos à criação virtual, ou seja, zonas ou momentos onde se criam e se desfazem, à velocidade da luz, universos informativos construídos a partir de processos de previsão espontâneos. Esses Universos informativos virtuais devem existir e imagino que chegam mesmo a formar-se mas devem desvanecer-se logo a seguir por falta de consistência, digo eu. Mas observar esse processo volatilmente criativo, deve ser fantástico. Quando a terceira e quarta dimensões da informação processada no nosso cérebro estiverem ao nosso alcance, nessa altura o mundo, à nossa volta, será para nós, os de hoje, completamente irreconhecível. Tão ou mais estranho do que o mundo do seculo XX poderia eventualmente ser para um cavaleiro medieval viajante no tempo. Tudo isso, imagino eu, deve acontecer hoje, já no nosso cérebro e mais. Só que o ignoramos. Estamos imersos numa realidade informativa que não passa de duas dimensões, dois planos, duas funções básicas. Isto poderá, como é óbvio, não fazer sentido nenhum para ninguém e até ser absurdo. Mas é assim que eu imagino. E não tem nenhuma pretensão, é apenas e tão somente uma deambulação de domingo.
Informação I
Em Barcelona, há que ver esta exposição sobre a explosão dos BIG DATA. Entramos de pleno na Era da Informação. Não que a informação não tivesse existido sempre mas porque hoje, o que conta é a forma como a usamos. Aprendemos a extrair a informação de tudo o que nos rodeia, a relacioná-la e a usá-la em benefício próprio ou da Comunidade. As empresas que lançaram os buscadores de informação (Google) ou as que fazem interagir informação para diferentes usos (social, para já) são apenas a pré-história desta nova ERA que irá dominar o mundo nos próximos milénios. Neste momento ainda só somos capazes de coligir e fazer interagir informação. Qual será a terceira dimensão da informação? E a quarta? Poderemos talvez prever, ou quem sabe se criar, a partir da informação. Virtualmente ou quem sabe se mesmo realmente. É uma questão de modelos, suportes e dispositivos. Imagino que as respostas virão à medida que se vá conhecendo o cérebro, essa máquina fabulosa de que dispomos e da qual apenas conhecemos uma ínfima parte. Engraçado. Todos temos um à nossa disposição e já há muito que nos deveríamos ter dedicado a conhecê-lo em vez de andarmos a explorar o fígado, o coração ou outros sistemas periféricos e colaterais. Tudo o que pode ser visto nesta fantástica exposição de Barcelona não é nada comparado com a nossa cabeça. Adorava conseguir explorá-la em ação, em tempo real. Com só o poder ver, por um breve instante, como se alinham os pensamentos antes de saírem ordenadinhos em palavras, já me bastava... Deve ser uma loucura. Para quem se diverte e se encanta com estes enigmas, como eu, aos domingos
sábado, 31 de maio de 2014
Cinco minutos de brilhantismo glorioso
Ninguém pode nem deve ser apreciado nem julgado pelos seus cinco minutos de brilhantismo glorioso. Está portanto errado o marketing que vive da cristalização desses minutos e faz bandeira desse momento único que até pode fazer imenso sentido, ser profundamente inspirador, revelador até de um enorme potencial...mas engana. Porque às vezes parece mas não é. Quer ser, mas não consegue. E quando se apagam as luzes, o som e as câmaras, a realidade desmente aquele instante, a inconsequência desfaz as aparências, a ausência de continuidade faz desmoronar pelas fundações os melhores propósitos. O único marketing válido é o antimarketing, aquele que começa e acaba nos bastidores, que dá conta da continuidade, o investimento que se faz no infinitamente pequeno, afinal, aquilo de que é feito o infinitamente grande. A luz está nas sombras, a glória nos bastidores, a fama nos longos 55 minutos que precedem e seguem esses cinco em que muitos investem porque sabem que outros não têm, outros não conseguem, outros não existem. Para muitos, finalizados esses cinco minutos, não há regresso a casa mas tão somente ao compasso de espera dos próximos. Ao hiato. Parece impossível. Há quem viva a investir nesses cinco minutos...porque o que manda é o mercado. Havendo procura, há oferta. Se são rentáveis, valem a pena. Só que, mudam-se os tempos, mudam--se as vontades. E antevejo que em breve o anti-marketing destronará o marketing e vai ser preciso ter agenda para aguentar 55 minutos de luz direta a incidir sobre a anti-gloria o anti-brilhantismo...Já imaginaram o que seria se as luzes incidissem 55 longos minutos sobre alguns dos herois e heroínas que hoje nos brilham cinco minutos nos écrans da televisão? Pode ser patético. Pode ser angustiante. Pode ser terrível. Entretanto, vamos continuar a assistir ao mercado da oferta e procura dos tais cinco minutos de glória e brilhantismo.
quarta-feira, 28 de maio de 2014
Recebi dos meus companheiros de Equipa, estas maravilhosas orquídeas de uma cor que só a Natureza sabe qual é. Eu adoro flores e não me canso de apreciar nelas a sua delicadeza, sensibilidade e graça, uma maneira de ser e estar na vida e para com os outros que devia guiar-nos e servir de referência. É de uma enorme generosidade terem as cores que têm, as formas que têm, a textura que têm. Se todos nos comportássemos e nos déssemos aos outros com a generosidade das flores, a vida era tão mais fácil de ser levada...obrigada aos meus amigos que me ofereceram tanta delicadeza, sensibilidade e graça para eu poder apreciar quando chego a casa. São referências inspiradoras que enriquecem a vida. Oxalá eu saiba cuidar delas!

segunda-feira, 19 de maio de 2014


Ao vasculhar entre as fotografias do passado, encontrei esta e não resisto a partilhá-la com as minhas primas Maria Rita Belard Kopke, Inês Kopke Teotónio Pereira e Guida Kopke. Então, como hoje, nada mudou. Chamo a atenção para o célebre "peitilho", uma peça de vestuário que a minha mãe adorava e que consistia numa gola engomada, a extremidade decorativa de um peitilho que ligava ao homólogo nas costas através de dois simples elásticos. Observe-se que este astuto "dispositivo da economia familiar", ao prescindir das mangas, teria provocado que a camisola, de lã autêntica, tocasse diretamente nos braços caso não fosse a providencial e complementar camisola interior de mangas compridas. Apesar das minhas queixas (o peitilho, por não dispôr de um sistema de fixação inferior, às vezes subia, subia e acomodava-se todo perto do pescoço...) e do anacrónico de ter que usar camisola interior + peitilho para evitar as picuras da lã, a minha mãe era inflexível porque achava imenso "que sim". Todas as mães usam o argumento "porque sim" porque adoram ver a estética exterior. Só percebi isso quando nasceu a Terezinha e o giro que era brincar às bonecas com ela...Mas nunca a obriguei a usar "peitilho", trauma de infância, ou não, a julgar pela fotografia...a Guida - que não usava peitilho, parecia bem menos feliz vestida de "saloia" doq ue eu com o meu "peitilho".
domingo, 18 de maio de 2014
Crónica de Domingo
Reconheço que devo muito do que sou à Banda Desenhada. Alguma, não toda. E apenas e só na medida em que muitos dos personagens, desenhos e diálogos foram e são responsáveis por terem forjado em mim um determinado sentido de humor, uma forma de observação e caracterização que reduz e reconduz muito do vejo à minha volta a algumas daquelas situações, personagens...Tento sempre fazê-lo, intimamente, como se fosse um qualquer um exercício físico saudável, com o intuito de relativizar o que vivo e me é dado a viver, dando-lhe as devidas proporções, desarticulando o dramatismo, limando excessos emocionais, reduzindo o significado aparente com que se nos impõem, por vezes, algumas vivências externas. E sempre, ou quase sempre me é possível encontrar um paralelo, do que me vai sendo dado a viver e nas minhas próprias atitudes e formas de estar, nalguma cena, diálogo ou desenho de uma banda desenhada. Quantos Oliveiras da Figueira já não se cruzaram connosco na vida? Abraracourcixes? Rantamplans? Irmãos Metralha? Os inefáveis membros dos Serviços Secretos da Bordúria? A tropa pirata suicida? Os mesquinhos e vaidosos traidores a César? "Aut Ceasar, aut nihil" A mítica Castafiore? E quantas vezes não nos acontece vermo-nos a nós próprios caricaturados na imagem de um desses personagens ridículos ou heroicos? Os variadíssimos personagens que encarnam e personificam a traição, a vaidade, a mesquinhez, a bravura, a amizade, a estupidez, a avarícia...Fechem os olhos por uns momentos e exercitem-se, com deleite e prazer, e um indisfarçável sorriso interior (ou gargalhadas, até) a identificar, à vossa volta, pessoas, situações, conversas e relações que possuem nalgumas destas obras desenhadas - magistrais, inesquecíveis - os paralelos e as referências humorísticas que nos servem para, como disse, relativizar a nossa circunstância e a alheia e manter, em qualquer processo, a saúde mental e o ânimo que queremos e precisamos para continuar. Há muito que passei do exercício físico a este exercício menos físico. E sou tão disciplinada, determinada e convicta neste exercício como o meu amigo Professor Jose Luis De Moura o é nas suas corridas diárias. Afinal, a vida joga-se entre neurónios...Bom domingo! Ah, e peguem no Tintim e as joias da Castafiore..."Ah, je ris de me voir si belle dans ce miroir..." Quem é?
sexta-feira, 16 de maio de 2014
A maldade
A maldade, a verdadeira maldade surpreende, choca, deixa sem palavras, gela a alma. Porque avança calada, de mansinho, pela planície da confiança, aproxima-se sem ser vista, oculta sob forma de um aliado, confidente, entra, instala-se, sorri, é doce, suave como o veludo e quando dispara não magoa, tamanha é a dor.
quarta-feira, 14 de maio de 2014
Dia 0 do Projeto UAW
Dia 0 do projeto UAW. Inicio do meu Diario de Bordo, a cronica em torno de 200 pessoas desempregadas que têm esperança. Ter esperança é navegar por entre um feixo de fé. Pela banda larga por onde são canalizados todos os nossos sentimentos positivos. O nosso reduto de força. Sentimentos cruzados, emoções à flor da pele. O compromisso, são estas pessoas todas. É essa a minha agenda, já não tenho medo porque é essa a minha Verdade, cresci até encontrar essa Alegria que forra as paredes internas de serenidade. Não há forma de ser diferente senão andar colado ao fundo de nós próprios. E nesse fundo há apenas e só estes olhos todos à minha frente, a atenção e a esperança. E nasce a ponte, feita do engenho, da imaginação, da determinação e do esforço. São palavras mas já não são só palavras. É o dia 0. Para todos eles. Mas também para mim. As decisões tomam-se assim. Com esta Alegria. O resto, é organização e método
sábado, 10 de maio de 2014
Navegamos ao sabor das ondas, no mar infinito que é a nossa vida. Só vale a verdade para o capitão do barco. Às vezes são suaves, as ondulações, outras vezes não tanto e outras ainda em que a calmaria é o pior cenário da existência. "Stille Ruhe herrscht im Wasser, ohne Regung ruht das Meer. Und bekummert sieht der Fischer, glatte Flasche, ringsumher. Keine Luft, von keiner Seite, Todesstille, furchterlich. In der ungeheuern Weite, reget keine Welle sich." Os ventos mudam por vontade dos Deuses, irritados com as verdades da Humanidade e dos humanos, cruzam-se vontades, rasgam-se os cenários, somos meros capitães do nosso barco e é assustador quando a brisa morre e de repente se faz silêncio e só sentimos os nossos próprios passos na imensidão de uma calmaria angustiante. Não há perícia que valha, tática que ajude, de nada serve a angústia, o reduto está no recolher, no final do abrandar o passo, penduradas as aparências, a sós e sós face à verdade e a verdade é que a alegria se foi. O recomeçar irá estar à vista de um longo compasso de calmaria, quando de novo formos capitães do nosso barco e não existam, por fim, mais Deuses no Universo, que tamanha ingenuidade pensar que existem Deuses, acreditar em Deuses e deixar que nos roubem a alegria...No entretanto, há que também saber viver, sem alegria. Ou olhar em volta, assustado, a calmaria, como diz Goethe.
Sem alegria
Hoje, ao recolher-me, desci as minhas escadas mais pausadamente do que é habitual, pensei um degrau atrás do outro, prolonguei a demora em chegar, até que se fizesse silêncio, entrei, pendurei-me, fui-me deixando pelas rotinas e sentei-me. Tinham-me roubado a alegria, de forma vulgar mas eficiente, fiquei sem ela e sem palavras, sem gestos, sem pensamentos, levaram tudo, de repente, aconteceu, o sol brilha mas já não aquece, a música continua mas em silêncio, vejo os sorrisos de sempre mas já não os sinto, ainda pareço mas sou menos, cada vez menos, em queda livre, defesa um, defesa dois, defesa três, por mim abaixo, vertiginosamente, as palavras desfazem-se com os segundos, não sei se desta, conseguirei sobreviver, fecho os olhos, porque existo, sentada, é noite, arrefeceu, não sei onde estou, até hoje não sei se serve para alguma coisa estar, se é possível estar ou se vou conseguir estar, sem alegria.
sábado, 22 de fevereiro de 2014
Desconstruir a Intergeracionalidade
Gostei muito do exercício de desconstrução dos pre-conceitos que existem em torno da intergeracionalidade. Parabéns à Ana, cara, corpo e alma do Movimento "Desconstroi" e a todos os que nele participaram. Desafiarmo-nos através do olhar dos outros é um método extraordinário de fomento da inovação e renovação pessoal. As nossas Verdades não são universais e nem sequer o devem ser para nós próprios porque criam gorduras e colestrol nos mecanismos de regeneração e de mobilidade que nos conduziriam para patamares onde podemos olhar o que nos rodeia com outro grau de abertura, tolerância e compreensão. A este mecanismo-trampolim chama-se inovação. E a inovação é fundamental para acompanharmos as exigências da vida. Vimos um filme onde se iam caracterizando as várias gerações ao longo dos últimos 50 anos. Como viveram e vivem o trabalho, o amor, o lazer, o êxito, os fracassos, etc. E verifiquei, não sem uma certa surpresa, de que apesar de estar longe de pertencer à atual geração partilho bem mais dos seus valores e forma de estar na vida e de a viver do que partilho dos valores que são referência da geração que nasceu nos anos 60, como eu. Ou seja, apesar da diferença de idades e de experiência vital, a distância pode ser zero, deixando sem sentido a noção de inter-geracionalidade. A acumulação de experiência pode ser a tal gordura indesejada que nos impede de nos colocarmos na melhor posição para enfrentar as exigências da vida de hoje. Se não soubermos combater esses depósitos de Verdades universais que vamos construindo ao longo da vida...sem abandonar a riqueza que alguns depósitos têm e que podem ser úteis aos que hoje começam o percurso da vida. Engraçado. Muito engraçado. O que devemos transmitir aos mais novos? E o que nos devem eles ensinar? Só o saberemos se soubermos construir um diálogo franco, aberto, construtivo. Lá está! O exercício era mesmo esse: desconstruir para construir. Com base no diálogo, o ouro da vida. Duas coisas a reter: Capital humano e diálogo. Desconstruir e construir. Bravo, Gustavo Freitas! O UAW vai pelo bom caminho.
sábado, 1 de fevereiro de 2014
Quando um dos filhos já faz 25 anos, os mais pequenos nos passam em altura, a nossa "ratinha" já quase que dirige uma empresa, o sobrinho já vai para "a noite de Santos", as sobrinhas vão e vêm e vão e vêm, e nos fazem imensa companhia com esse vendaval de alegria que entra e sai de "sopetão" (como dizia o inefável Gabriel Alves)...quando a vida daqueles a quem demos vida e ajudámos, com amor, com preocupação (e quanta irritação, por vezes e alguma impaciência, ai o armário!), às apalpadelas, quantas vezes!, outras com as certezas que vamos adquirindo, quando essa vida desabrocha com a beleza e pujança que irradia desta fotografia e o mano começa a ter uma respeitável barba branca, chegou o tempo de começar uma nova vida, nossa, merecida, desejada de tantas coisas para fazer e viver ainda e da qual eles, os "nossos eternos miúdos" também possam sentir-se orgulhosos e na qual possam participar, como homens e mulheres feitos e amigos e conselheiros, porque não?, a vida é uma cadeia eterna de mãos que se vão dando, de formas diferentes, ora nos puxam,ora empurramos, consolamos, advertimos, recebemos e damos, reparem na fotografia e vejam como as mãos dão continuidade e sentido às gerações, ao carinho, ao compromisso. Nem sempre é fácil reunir todos e nem sempre o ambiente e o quotidiano estão isentos de fricções e desentendimentos, egoismos e orgulhos vãos e mas...há estes momentos de "dar sentido às coisas" e deitar sobre elas uma olhar com um algoritmo que identifica apenas as traves mestras da nossa existência e aponta à essência da nossa vida. E...ficamos a galgar por aí fora no silêncio, a pensar apenas desta maneira que sabe encaixar as peças soltas no sítio certo e às tantas o olhar vem ao de cima e...são todos tão bonitos que ainda por cima dá gosto só olhar.
Subscrever:
Comentários (Atom)
 
 

