À janela, o negro da noite a ceder já aos primeiros raios de luz, a fusão entre a calidez e o aconchego da sala onde estou e a imensidão do relento profundo do amanhecer. Os momentos de transição são sempre os mais fascinantes, quem os obra, quem os dirige, quem se ocupa de assegurar que o meu olhar sobre o que já está a acontecer, mas ainda não o é, não se quebra a meio caminho e consegue deslizar com suavidade e sem percalços para a manhã que desponta? E quem ensina a passarada a acompanhar esta dança sem guião nem partitura conhecidos com os seus chilreares de prata delicada e esses rendilhados de assobios alegres e polifónicos? Sempre pensei que o Universo nos estende a mão para entrarmos nos seus mistérios quando se despe e muda a sua roupagem de luz e procuro reter o fôlego para não interferir neste baile lento e cadenciado, apaixonado, os braços entrelaçados, entre dois momentos do dia que são inseparáveis e um só caminho até à eternidade. Só assim se explica tudo.
7 dezembro 2024

 
 
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