No entanto. É isso mesmo. Eu vivo no mundo do “no entanto”. Escrevo porque acredito no “contudo” e sonho, muito porque sou fã do “porém”. A minha vida toda tem sido a procura deste Universo regenerador que habita nas paragens que se situam sob a proteção feroz destas conjunções adversativas, verdadeiras sentinelas e seguranças deste porto-de-abrigo onde regresso sempre, para recuperar, para renascer e crescer, rumo à sabedoria. E o cenário da minha existência não precisa de mudar, aliás, geralmente não me movo muito para além destas paragens do meu dia-a-dia, e, lá está, no entanto, a minha alma, guiada pelos meus sentidos, essa sim, vagueia, viaja, celebra, embeleza-se, refina-se, deleita-se, chora, ri às gargalhadas, cultiva-se, aprende, disfruta, partilha, com humildade e abertura. Neste abrigo do tamanho da existência aprendo a ser estado de alma, um sentir tão sensível como uma pluma que baloiça na brisa delicada de um entardecer lento quase impercetível. Ou num amanhecer de bochechas rosadas entre a palidez da pele deste universo que se esconde por trás do “no entanto”. Porque é aqui, neste cenário de sempre, protegida pelas conjunções regenerativas, onde o estado de alma, cada dia, todos os dias, sempre, recupera a capacidade de olhar para a realidade sem desfalecer, sem se corromper, sem claudicar e sem se dissolver. Nem preciso de respirar fundo e de fazer grandes reflexões. A linguagem da alma é outra, alimenta-se dos sentidos. E recria-se, continuamente, no mesmo cenário de sempre, porque o seu universo está para lá do “porém” da realidade.
6 fevereiro 2025

 
 
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