Os dias são tão diferentes uns dos outros, talvez porque a alma - o que nos "anima" - seja uma agulha fina, delicada, diria que tão leve como uma pena que baloiça ao capricho da brisa e oscila sem cessar, sem nunca se repetir, sem guião predefinido ou objetivo certo, rumo desenhado, propósito algum, tudo depende...E entre esses dias que seguem caminhos por tonalidades tão diferentes, ainda há os que são tão singulares quanto efémeros mas não por isso menos intensos e exigentes e mobilizadores, pelo contrário, são dias em que a melodia, a tonalidade, a textura, a intensidade e a complexidade dos pensamentos que vão percorrendo as nossas fibras mais remotas, os nós centrais do nosso centro de gravidade, as extremidades mais delicadas e sensíveis das nossas memórias, esses filamentos oscilantes e luminosos que são os sentimentos, carregados de afetos, emoções, amores e desamores, angústias, medos, tormentos, alegrias, saudades, histórias, pessoas, carícias inesquecíveis e estalos sonoros que afagam tanto como corroem, todo este turbulento vendaval que nos suga, nos possui, nos domina e controla, perfeitamente dirigido e conduzido pela agulha que dita esses nossos momentos mais singulares, esses dias que valem por todos os que vivemos ou imaginamos viver, rebenta por vezes, ou quase sempre, numa onda que rola e se desenrola e desliza com uma suavidade extrema, uma cadência lenta, silenciosa, redonda, densa pela praia de areia fina e cálida onde, sob a forma de nuvem sem densidade nem espessura, desabamos em nós com uma irreprimível torrente de lágrimas grossas e brilhantes, condimentadas com o sabor e dissabor da vida, mel e fel, doces e amargas, de doçuras e raivas, todas elas apaixonadas, profunda e irremediavelmente entregues à singularidade que é ter a Vida, não há mesmo quem mais me arrebate o coração desta maneira, senão ela, a Vida, o meu maior e único amor. São os tais dias singulares, de homenagem à Vida.
18 outubro 2024
 
 
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