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quarta-feira, 30 de abril de 2025

Por fim, o Universo abranda

Há sempre uma sardinheira em flor, num dia pardacento e aguado, de humor sereno e alma em paz. São paisagens necessárias, desejadas, como quem diz, por fim a harmonia e o equilibrio, a descida suave e progressiva para o interior, a janela encostada, a manta para o anoitecer, esfria, apetece recolher os sons, as cores, o bulício, a animação, a luz que fere e guardá-las nas palavras que enchem o diário, aconteceu, hoje será diferente, o mar morrerá doce na praia sem ondas que o empurrem, feérico e alegre contra as rochas , as gaivotas, da cor do céu, passearão tranquilamente as suas pegadas pelo areal, sem guinchar, também elas sabem que o mundo baixa de intensidade às portas do mês de setembro, quando começa verdadeiramente a vida, se forja o que somos, se decide o que seremos. Porém, entre a imensa calmaria e sossego onde o olhar pousa e repousa, há sempre aquela sardinheira rubra e fogosa que destaca e destoa e que mantém viva a chama que voltará a brilhar após o renascer do Universo, para além deste horizonte de recolhimento onde entramos, por fim, já era hora. A sardinheira também é nossa irmã.

30 agosto 2024


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