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quarta-feira, 30 de abril de 2025

Inteligência artificial - Ignorância artificial - Insónia artificial (A entropia aumenta sempre, é a segunda lei da termodinâmica...)

Acordei com um barulho a bater furiosamente à minha janela e a gritar por mim, era a chuva, pois, certamente, é assim que ela bate ultimamente. Ando com o sono leve, o nome do herói da minha próxima novela impede o sono profundo, uma maçada, isso sim, será este, será aquele, este não, certamente e aquele não é nome que se dê a ninguém e lá acendo a luz, para desanuviar os neurónios e ponho-me a fazer a proposta de roteiro pelo Porto de três dias de férias que uns amigos vão passar à Invicta. Um pedido que atendo sempre, por amizade, para que os amigos não passem por turistas, o pior que um ser humano pode ser, ultimamente, quando tenta sair de casa para conhecer mundos. E decidi, a estas horas de pouca energia, de recorrer à IA para ver se realmente era útil para, em menos de dez segundos, organizar um roteiro turístico, como me disseram que fazia. E certifico o seguinte:

1. Em dez segundos a IA apresentou-me um roteiro que não se apresenta a nenhum ser humano, talvez a outros colegas e amigos IA lá onde vive: desde erros de ortografia básicos, a indicação de restaurantes que não eram do Porto e ao esquecimento de atrações como possam ser a Casa da Música, a Torre dos Clérigos ou a Foz do Douro...de tudo um pouco.

2. Surpreendida com tanta "I" de Ignorância, voltei a tentar. Até fui simpática e perguntei se não se tinha esquecido daquelas atrações básicas do Porto e a ou o, não sei, agradeceu-me pela lembrança e incluiu-as na dita agenda. Quanto ao restaurante que não era no Porto, mas sim nos confins do Alto Alentejo, desculpou-se pelo erro grosseiro, mas não me deu alternativa. E fez uma nova proposta.

3. Na segunda proposta, os meus amigos iriam fazer um rally paper pela cidade do Porto em ziguezague, como aquelas sugestões do Waze que nos faz andar 20 quilómetros de carro para ir de A a B porque não percebeu que queríamos ir a pé...um desatino e um desnorteamento de percursos e trajetos que me deixou pior do que estava com a primeira proposta. Irritada, fiz-lhe notar que ir à Sé Catedral, depois à Foz e voltar aos Clérigos e no dia seguir à Livraria Lello, era um absurdo e uma asneira e voltou a pedir-me desculpa, educadamente, isso sim e fez uma terceira proposta mais disparatada ainda que as anteriores, baralha e volta a dar, desta vez fiel à segunda lei da termodinâmica que diz que o mundo caminha para uma desordem e um caos completos e assim foi. 

4. Às 4h30 da manhã, quando a chuva parou de bater-me à janela e a noite amainou, desisti de dar corda à Ignorância artificial. O Porto fica para amanhã, farei o que faço sempre, sem perder tempo a consultar mecanismos que escrevem burrices e estupidezes básicas à velocidade da luz. 

E volto à questão da identidade do meu herói. Tira-me o sono, é verdade, mas as fontes onde vou buscar ideias e construir linhagens são aqueles calhamaços de sempre onde o que se escreveu resultou de anos de estudo, de consulta de milhares de fontes e de uma reflexão vagarosa, mas cuidada. E fico em paz. Porque dar uma identidade a alguém, ainda que fictícia e fictício, tira o sono, leva tempo, não é para hoje, não sei para quando será, mas quando for, sei que fará sentido e não será fruto da ignorância artificial. 

5. Isto da Inteligência artificial que é certamente uma ignorância artificial, mais do que tudo, acabou por ser uma miserável insónia artificial...agora já tenho de me levantar...

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