A fotografia da janela da sala de minha casa, à primeira vista, pode parecer que nada tem a ver com a ressonância magnética que ontem fiz, mas tem. O que se passa atrás da janela iluminada neste amanhecer ainda brumoso sintrense, só pode ser desvendado se me aproximar, encostar a cara à vidraça e espreitar. Mover-me-á o grau de curiosidade que me animar, claro. A luz, intensamente amarelada e quente, num cenário tão pálido e deslavado é suficientemente misteriosa para excitar a minha imaginação e é isso que me leva a aproximar-me, quero saber...e foi este pensamento que me entreteve nos longos 25 minutos que durou a ressonância magnética a que me submeti ontem. E enquanto o barulho ensurdecedor que resultava da vibração do íman gigantesco que rodeava o meu corpo enchia o meu entorno, o meu pensamento estava com os quarks dos protões dos meus átomos de hidrogénio, os veículos que iriam permitir aos técnicos e médicos ver o que se passa por trás da minha vidraça iluminada, que mistério está guardado nos tecidos e estruturas que formam o meu interior. Tentei sentir como esses meus simpáticos e prestáveis quarks se alinhavam ao capricho dos impulsos magnéticos que a máquina ia produzindo, mas acho que foi apenas um wishfull thinking pois, para nosso grande desespero, essas nossas estruturas subatómicas não nos obedecem, são rebeldes aos nossos caprichos, que não às ordens das máquinas infernais, hélàs. Tive pena que terminasse o exame pois é difícil podermos abstrair dos ruídos caóticos e dispersivos que são o nosso dia-à-dia e focalizarmo-nos nos mistérios que habitam as profundezas da nossa existência, no âmago do nosso ser, o que se esconde nos tecidos, nas células, no infinitamente pequeno...Ali, quieta, deitada, protegida por um poderoso campo magnético e isolada do mundo por um barulho ensurdecedor, consegui concentrar-me e conviver com o mistério que se esconde por trás, dentro dessa janela iluminada. Graças à RM. Viva a ciência!
11 março 2025


 
 
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