Este disco forjou uma época da minha vida, foi a melodia que envolveu a minha vida estudantil, na Escola alemã, os exames, o estudo até altas horas, a ansiedade, o cansaço, o final de uma fase e a visão do início de uma vida profissional que me levaria à independência…mas não só. Passagens sublimes deste disco estão intimamente ligadas aos dias em que o meu pai foi operado às coronárias na Suíça, a possibilidade de ele morrer nessa operação e de nunca mais o poder ver…o seu significado e peso na minha vida, o afeto, a amizade, o amor que lhe tinha e que de repente se materializaram na minha consciência, assim, sem mais, ao som dos acordes do 1. “andamento” do Concerto de Colónia. Mas não só. Grande parte deste disco ainda é hoje a banda sonora de um determinado estado de espírito onde volto sempre que preciso, tenho necessidade ou me apetece emocionar-me, lançar no ar e deixar voar, livres, emoções e sentimentos que dão sentido à minha existência, dão consistência e razão de ser à minha maneira de ser, de estar, de sentir e agir. É como se esta música fizesse parte do meu sistema operativo, fizesse parte da engrenagem que me mantém viva e me define enquanto ser. Cada vez que oiço esta música (procuro que não sejam muitas vezes) mergulho na escuridão da sala grande de mim e vejo-me por dentro, os quadros da minha vida, os personagens, a alegria esfusiante de alguns momentos e o seu reverso, os lados mais lúgubres e rasteiros, a lama onde escorreguei nas fases menos brilhantes da minha vida…tudo isto ao som dos acordes da melodia deste concerto improvisado pelo génio do jazz que é Keith Jarrett…oiçam, de preferência à noite, sós, em silêncio e busca da paz necessária para se verem e sentirem. E encontrarem.
21 março 2025

 
 
Sem comentários:
Enviar um comentário