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quarta-feira, 30 de abril de 2025

Éramos assim...

Éramos assim por que era assim, o nosso tempo, os nossos pais, as nossas casas, as nossas roupas, a nossa estética, a nossa vida, as nossas relações, as nossas brincadeiras, as nossas zangas, as nossas rivalidades, os nossos amuos, as nossas gargalhadas, a nossas poses para a fotografia, uma só, que imortalizava um momento, um só, aquele, naquele dia, com a data escrita por trás da fotografia com a caligrafia inconfundível da mãe, guardada no álbum, para recordar. Éramos três irmãos. Bernardo, Carminho, João. Carminho, João, Bernardo, João, Bernardo Carminho, rezava o papel escrito com a letra da autoridade do pai, pregado com um "pionés" atrás da porta do quarto das brincadeiras para que não houvesse zangas nem lutas à hora de ir tomar banho - 19h00 - para ficar a ver os desenhos animados (The Mighty Mouse, entre outros), que começavam a essa hora. Gostava de poder voltar para trás e saber o que sei hoje, o que vivi até hoje, e recomeçar tudo outra vez. Voltar a ser assim, como era, voltarmos os três a ser assim, como éramos. Voltarmos a ter o pai, atrás da câmara e a mãe, sentada a escrever a data por trás da fotografia. Ter aquela mesma roupa, rude e resistente, a estética sem pretensões de espécie alguma, estarmos sentados no degrau do pátio da casa do Banzão, um domingo de inverno, provavelmente, e ter a vida toda pela frente com estes dois irmãos que a vida me proporcionou e os pais que tive, nos tempos que foram aqueles de então e ...teria tido, então, a possibilidade de ouvir e fazer caso a esta voz silenciosa, mas tão clara e nítida, que hoje e então me teria inundado a alma da alegria que é ter consciência da imensa sorte que tive e tivemos em termos podido ser assim, como éramos e - em memória do meu irmão Bernardo que hoje, falta, na fotografia - ainda hoje somos.

14 outubro 2024

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