O mundo anda esfarrapado à nossa volta e vem-nos bater à porta para lhe darmos abrigo, consolo, sustento e ânimos, que bem precisado está…e eu aqui sentada a pensar como fazê-lo, especialmente hoje, que amanhece véspera de Natal e é suposto pregar a paz e a harmonia entre os Homens. É um bom momento, aqui de guarda ao peru a dourar no forno enquanto a aurora se vai despertando de mansinho lá fora. A casa está cheia de postais dos vários Natais que já vivi, o presépio, as luzes, o calendário do advento, o pai Natal, a rena, as bolachas em forma de estrela, a mesa da Consoada onde logo mais à noite se reúnem as famílias do Condomínio Pinto, agora silenciosa e na penumbra, logo feérica e ruidosa…e é aqui que me detenho, pois é isso que me faz sentido e é para isso que nos rodeamos de símbolos e caprichamos no jantar: para viver as luzinhas que se vão acender logo mais à noite à volta da mesa: a família. Cada um deles brilha e traz luz à escuridão, música ao silêncio, gargalhadas e conversas que aquecerão o frio da noite. É isso que importa e é esse o consolo que se pode dar ao mundo: manter estas nossas luzes acesas de amizade, boa vontade, paciência, humildade, espírito de sacrifício, compreensão, alegria e dedicação. Não podemos fazer muito mais senão acreditar que com isto, com este compromisso e esta atitude alguma esperança sairá logo à noite na fumaça das lareiras acesas do Condomínio Pinto. Não somos exemplares, mas acreditamos que o caminho é este e por isso estou aqui sentada, pelo que me toca nesse processo, com a Uva e o Tinto, de guarda ao peru, enquanto lá fora nasce mais uma véspera de Natal. In seculum, seculorum!
24 dezembro 2024





 
 
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